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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Google Earth ajuda a encontrar vestígios de civilização desconhecida na Amazônia

População registrou no solo buracos gigantes com formas geométricas precisas

André Sartorelli e Luiz Augusto Siqueira, do R7

Sanna Saunaluoma/ReproduçãoFoto por Sanna Saunaluoma/Reprodução

Descobrir o porquê das marcas geometricamente perfeitas no solo
ainda é um dos mistérios que envolve a pesquisa dos arqueólogos

Pesquisadores das universidades federais do Pará (UFPA), Acre (UFAC) e do Instituto Ibero-americano da Finlândia, em Madri, na Espanha, encontraram em uma área da Amazônia – ao norte da Bolívia e em parte dos Estados do Acre e do Amazonas – mais de 200 marcas no solo em formas de círculos, quadrados e retângulos, muitas delas ligadas por pequenas estradas retas.
A descoberta foi feita a partir da análise de fotografias feitas por aviões e de imagens via satélite mostradas no serviço gratuito Google Earth. Segundo os especialistas, nessa região viveu entre os anos de 200 e 1.283 uma civilização que ainda não foi identificada.
A hipótese mais estudada é que uma população de aproximadamente 6.500 índios Aruaques ocuparam a região. Trata-se da primeira população indígena a ter contato com europeus quando Cristóvão Colombo chegou à América. Ainda há grupos de Aruaques inclusive na Bolívia, onde existem marcações terrestres semelhantes. A maioria desses índios foi exterminada por doenças trazidas pelos europeus há mais de 500 anos.
Além de identificar os habitantes do passado, outro grande desafio dos pesquisadores é descobrir por que as trincheiras foram construídas e qual o motivo deles terem desenhado buracos contínuos com tamanha exatidão.
Os primeiros geoglifos – marcas na terra, na linguagem técnica – foram vistos na área estudada em 1999, mas na época não existiam instrumentos como o Google Earth que fornecessem fotografias via satélite com boa resolução.

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Há indícios que as valas foram construídas por índios Aruaques (Foto: Edison Caetano/Reprodução)

A arqueóloga Denise Schaan, coautora do estudo, professora da Universidade Federal do Pará e pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), diz que o uso do Google Earth contribuiu bastante para a pesquisa.
- As imagens aparecem muito bem, com riqueza de detalhes e indicação das coordenadas geográficas, recursos importantes para facilitar que a gente chegue às marcas pelo solo. Isso complementa o trabalho das fotos tiradas por aviões, que são caras. O único problema é que o Google Earth privilegia áreas urbanas, Então, algumas partes ficam sem monitoramento.
E não foi só a tecnologia que fez com que as trincheiras pudessem ser visualizadas. Desde a década de 80, as atividades pecuárias cresceram muito na Amazônia e provocaram a devastação da floresta, abrindo grandes clarões.

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As marcas no solo estão próximas a uma área do vale do rio Purus, um dos principais afluentes do rio Amazonas. A região tem 250 km de diâmetro e cada forma geométrica tem de 1m a 3m de profundidade por 11m de largura com pequenas montanhas de terra do lado de fora, que nada mais são do que o material retirado para formar os buracos.
A partir de escavações, foram encontradas dentro das valas objetos domésticos de cerâmica, pequenas marretas feitas com pedra, alguns ossos e uma mandíbula de um animal ainda não identificado.
- É bem provável que essas trincheiras eram usadas para defesa. O relato de um índio Aruaque relaciona a mitologia indígena ao desenho de figuras geométricas e rituais de celebração aos deuses.
O próximo passo dos pesquisadores é aumentar o ritmo de escavações, descobrir a qual animal pertence a mandíbula coletada e criar um catálogo sobre a vegetação do espaço para que se consiga identificar mais pistas dos habitantes.
- Algumas limitações como a falta de arqueólogos no Acre tornam a pesquisa um pouco mais demorada, mas a gente espera que no futuro o Estado possa sair ganhando com a beleza das marcações ao se tornar uma região turística de observação aérea.

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