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Chefe e integrantes de máfia que escravizava mulheres são presos na Espanha

Ele teria encomendado a morte de moradora do DF

Guilherme Goulart

Publicação: 16/03/2010 08:36

O homem acusado de encomendar a morte de uma ex-garota de programa no Distrito Federal acabou preso em megaoperação realizada ontem em três cidades da Espanha. A Polícia Federal espanhola surpreendeu Miguel Arufe Martinez, o Antonio, em um dos prostíbulos da quadrilha, no centro de Tarragona, a cerca de 90km de Barcelona. Quase 30 pessoas, a maioria do Leste Europeu, foram presas com o espanhol por suspeita de assassinato, exploração sexual, prostituição internacional e trabalho escravo.

Letícia contou à polícia detalhes da organização criminosa - 
(Keber Lima/CB/D.A Press - 7/3/09
)

Letícia contou à polícia detalhes da organização criminosa

A investigação contra o grupo comandado por Antonio teve início pouco antes do assassinato de Letícia Peres Mourão, 31 anos, em março do ano passado. A goiana, que morava com o filho no Guará desde dezembro de 2008, desafiou a máfia local ao contar detalhes do horror vivido como garota de programa em Tarragona. Entre o fim de 2005 e o início de 2006, ela prestou depoimentos à polícia e à Justiça espanholas e detalhou as condições de trabalho impostas pela organização. Descreveu a condição de escrava sexual e os maus-tratos enquanto viveu no prostíbulo da Calle Gasometro, 38-2.
Na manhã de ontem, dezenas de agentes do Grupo de Operações Especiais da Polícia Federal desmantelaram a quadrilha. Houve 23 prisões em flagrante: 10 em Tarragona, 10 em Barcelona e três em Vilanova i la Geltrú. À exceção do líder do grupo, os demais detidos têm origem lituana. Além das prisões, os policiais apreenderam na casa de Antonio várias caixas com documentos de contabilidade. A previsão era de que os acusados prestassem depoimentos à polícia ontem e, em seguida, ficassem à disposição do Juizado de Instrução nº 5 de Tarragona, o mesmo onde Letícia denunciou a máfia.
A operação da Polícia Federal espanhola também libertou pelo menos 30 mulheres mantidas sob o poder da organização criminosa. A maioria saiu da Lituânia, mas há informações de que brasileiras estavam confinadas nas casas de prostituição gerenciadas pela quadrilha de Antonio. A maioria delas entrou clandestinamente na Espanha. Chamaram a atenção dos agentes especiais as condições das garotas. Muitas carregavam nos corpos marcas de espancamentos e do regime de escravidão sexual imposto pela rotina nos prostíbulos das três cidades espanholas.
O cotidiano dentro desses lugares ficou evidente a partir das informações dadas por Letícia em solo espanhol. O Correio teve acesso, em julho de 2009, ao depoimento dela. O documento revela que a vítima não suportou a situação, mesmo depois de aceitar passar 21 dias na casa de prostituição da Calle Gasometro. Não aguentou 10 dias dentro do local, usado como fachada para a ONG Andando Sin Fronteras. “Soube que poderia descansar de quatro a cinco horas, que logo isso não ocorreu, trabalhando praticamente as 24 horas”, denunciou.
Assistência
A prisão da quadrilha chefiada por Antonio repercutiu na imprensa espanhola. Jornais e redes de televisão de Tarragona acompanharam a operação e publicaram em sites as imagens das detenções. O El País.com descreveu o líder do grupo como “cérebro da trama”. “A Polícia Nacional desmantelou esta manhã em Tarragona uma ativa rede de exploração sexual que operava pelo menos meia dezena de prostíbulos da província. O caso está sob segredo de Justiça e a investigação segue em aberto, pois não se descartam mais detenções”, publicou o site do El País.
Assim como vários meios de comunicação nacionais, a TVE espanhola citou o envolvimento de Antonio com o assassinato de Letícia. “Letícia Peres Mourão, que foi assassinada na cidade brasileira de Guará, havia trabalhado em um dos edifícios da Rua Gasômetro de Tarragona”, escreveu uma das reportagens da página eletrônica da rede de televisão. O El Periodico.com lembrou que Antonio é acusado de contratar um matador para assassinar a goiana. “A acusação contra Arufe se baseia em testemunho do matador”, informou o site.
Para o chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Estado de Goiás(1), Elie Chidiac, o ataque à quadrilha de Antonio terá influência no Brasil. Levantamento realizado pela entidade, por exemplo, revelou que 3 mil mulheres nascidas em Goiás viveram da venda do corpo fora do país a partir de 2004. Só em 2009, 15 morreram, a maioria envolvida com organizações especializadas em tráfico de pessoas. “Esse tipo de operação minimiza o tráfico de seres humanos, que tem como caminho certo o fim trágico. Atingiu a rota do tráfico”, avaliou.
Chidiac espera que as brasileiras libertadas pela Polícia Federal espanhola tenham acesso a embaixadas e a consulados do Brasil. “Se tiver goianas entre elas, espero que sejam comunicadas de que nós temos a possibilidade de oferecer apoio logístico e, se for o caso, trazê-las de volta ao nosso país”, alertou. A assessoria especial tem a chance de incluí-las em programas sociais do governo de Goiás. Emprego e assistência médica, para o caso de doenças sexualmente transmissíveis, também são oferecidos para as mulheres repatriadas.
1 - Combativo
O órgão, criado em 2000 pelo governo goiano, presta assistência aos familiares e às vítimas de prostituição no exterior. O combate passa por três pilares: repressão, assistência e conscientização. Trabalha em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público de Goiás.

"Esse tipo de operação minimiza o tráfico de seres humanos, que tem como caminho certo o fim trágico"
Elie Chidiac,chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Estado de Goiás

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Fonte:Correio Brasiliense 50 anos.|Cidades

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