Páginas

Mulheres com crianças são detidas por tráfico

Luciana La Fortezza

Às vésperas da Páscoa, quando parentes se reúnem por conta do feriado cristão, uma família da Vila São Paulo, em Bauru, foi desmanchada por conta do tráfico de drogas. Elza Pisolate, 49 anos, foi presa em flagrante ontem pela manhã, assim como a nora dela, Michele Aparecida Pereira Prado, 23 anos, mãe de um garoto de 6 anos e um bebê de 2 meses. Pelo menos inicialmente, os irmãos ficarão sem mãe nem pai, uma vez que marido dela está preso em virtude de outra ocorrência. Na noite de ontem, o neto de Elza, um adolescente, também foi apreendido.
A família comercializava crack e maconha, na quadra 1 da rua Santo Garcia, pelo buraco do hidrômetro, informa o delegado Kléber Granja, da Delegacia de Investigações sobre Entorpecente (Dise). O modo como procediam foi observado por cerca de 15 dias, durante campana realizada por equipes da delegacia, onde foram registradas mais de dez denúncias sobre o ponto. Pelo bairro, comentava-se que a família, agora desestruturada, enfrenta o drama de muitas outras, que ainda sofrem com usuários fora de controle.
A maior parte deles freqüentava o local no final da tarde e à noite. Na casa, os policiais encontraram 33 pedras de crack acondicionadas num pequeno recipiente de remédio, dentro da gaveta de uma penteadeira, onde estavam também R$ 310,00 em notas pequenas. Mais R$ 40,00 foram encontrados no sutiã de Elza. Já 135 gramas de maconha (quantidade capaz de ser dividida em 300 porções) estavam num guarda-roupa, junto com as coisas de Michele, informa o delegado.
A Dise ainda encontrou três celulares, seis cartuchos calibre 38 e dois cartuchos de munição para espingarda calibre 12 (uso exclusivo das forças policiais), que disseram ter encontrado na rua. As mulheres responderão por tráfico de drogas e associação para o tráfico, com o agravante de envolverem um adolescente no esquema.
“Tráfico familiar está muito comum. Tem bastante. Pela confiança, facilidade de dividir o lucro, além de um não entregar o outro. Mas aí a família toda é presa”, comenta o delegado. O adolescente permaneceria no Núcleo de Apoio Integrado (Nai), ligado à Fundação Casa, até deliberação judicial. Elza e Michele seriam conduzidas, ontem à tarde, para a cadeia feminina em Pirajuí, onde o bebê pode ser encaminhado para permanecer na presença da mãe, que o continuaria amamentando. A possibilidade será estudada pelo Conselho Tutelar, que fez um termo de guarda das crianças para a tia delas, filha de Elza. Segundo a presidente da entidade, Sônia Almeida Justino, o regimento interno da unidade prisional será analisado.
Normalmente, fica com a mãe o bebê da mulher que terminou a gestação já presa. Nesta situação, informa Sônia, o recém-nascido permanece numa área especial até completar 6 meses. Mas o direito da mãe amamentar o filho no peito está previsto na Constituição do Estado de 89, informa o juiz da Vara da Infância e Juventude, Ubirajara Maintinguer.
“Se o local não é adequado não quer dizer que o direito não tenha que ser observado com as condições existentes. Não é primeira vez que isso acontece. O ideal seria a existência de berçário, lactário, creche. Mas isso parece que virá somente com a construção dos presídios femininos”, comenta o magistrado. De acordo com ele, neste caso específico, o bebê de 2 meses deve acompanhar Michele. Porém, se o Conselho Tutelar achar que não tem condições, deverá abrigá-lo. “Aí terá de valer-se do banco de leite”, conclui. Conforme a reportagem apurou, não é comum presas amamentarem na cadeia pública de Pirajuí.

Ler Mais

Heres Mitta

Desapareceu3