Policiais passaram Natal dentro de um carro procurando traficante 'Fabinho'
Rio - Para uma equipe de policiais da 20ªDP (Vila Isabel), a ceia do último Natal foi dentro de um carro, escondido na Rua Garibaldi, na Tijuca. Após um mês de investigações, eles acreditavam que um dos maiores e mais sanguinários bandidos do Rio seria tocado pelo espírito natalino e visitaria a mãe naquela virada de 24 para 25 de dezembro. Fábio Pinto dos Santos, o Fabinho do São João, não apareceu. Mas o esforço dos agentes foi recompensado na tarde desta quinta-feira, na belo Balneário de Camboriú, litoral de Santa Catarina, onde capturaram o traficante dentro de uma concessionária, onde comprava mais um carro zero quilômetro.
Chefe do tráfico de várias favelas da Zona Norte – entre elas o Morro São João, Quieto, Sampaio, no Engenho Novo, além de Manguinhos – Fabinho estava foragido desde janeiro do ano passado, quando ganhou o benefício da Visita Periódica ao Lar (VPL) após passar dez anos atrás das grades. Neste tempo de liberdade, tornou-se a principal liderança do Comando Vermelho nas ruas, já que a cúpula da facção está dividida entre a penitenciária de Catanduvas (PR) e o Complexo de Gericinó.
Há mais de seis meses, Fabinho era o responsável por administrar a "caixinha" da quadrilha, que reúne doações mensais de todas as favelas para a compra de armas, munições, financiamento de guerras. A mais recente delas, a tentativa de invasão ao Morro dos Macacos, em novembro passado, deixou um saldo de seis mortos.
Na semana seguinte, Fabinho liderou outro grupo que atacou quatro carros da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), na Avenida Democráticos, em Bonsucesso. Naquelas cinco horas de confronto, seis policiais ficaram feridos. O traficante e outros 20 comparsas tiveram a prisão decretada pela Justiça.
A partir destes dois episódios a prisão de Fabinho tornou-se uma prioridade para a Secretaria de Segurança Pública. Quando assumiu o comando do Departamento de Polícia da Capital (DPC), em dezembro, o delegado Ronaldo Oliveira transferiu para a 20ªDP a delegada Roberta Carvalho, justamente com a missão de capturar Fabinho.
Diferentemente da maioria das investigações, este trabalho não teve uma escuta telefônica sequer. "Fomos levantando a vida dele até chegarmos às mulheres que o cercavam. A mãe, a irmã e a nova mulher, que até então ninguém conhecia", explica a delegada.
Após descobrirem que ele havia se separado da mãe de seus dois primeiros filhos, os investigadores passaram a tentar levantar o nome da atual mulher. As informações indicavam que ela seria do Sul e que já teria sido presa. O levantamento feito a partir dos dados de todas as presas que saíram da cadeia no Rio de Janeiro desde 2006 demorou, mas eles chegaram ao nome de Silvana Almeida de Moraes.
E daí o trabalho se desenrolou até a noite de Natal, quando eles acreditavam que conseguiriam prendê-lo na casa da mãe, na Tijuca. Fabinho não foi, mas a liberdade durou apenas mais duas semanas. Com a descoberta que Silvana dera a luz em 9 de dezembro,os policiais iniciaram uma peregrinação para descobrir a casa de saúde. E descobriram. Felipe nasceu no Hospital São José, em Criciúma. "Sabíamos que ele estava afastado da favela há mais de duas semanas. Quando soubemos que a irmã tinha viajado para Santa Catarina no último dia 4, resolvemos tentar encontra-la", explica um inspetor.
Quatro inspetores viajaram na tarde de quarta-feira para Santa Catarina. Lá receberam apoio da Divisão de Entorpecentes do Deic e, ontem à tarde, localizaram o Gol da irmã de Fabinho na praia. Passaram a seguir o veículo e chegaram à concessionária, onde o traficante comprava um carro. Ele nem reagiu. E deverá ser trazido para o Rio em um voo fretado pela Secretaria de Segurança hoje ou amanhã.
Fabinho já vinha preparando o terreno, literalmente, para montar uma vida de fachada em Santa Catarina. Mais precisamente na bela cidade de Araranguá, no litoral do Estado e que tem cerca de 60 mil habitantes. Foi lá, numa rua do bairro Jardim das Palmeiras, que o traficante começou a construir sua mansão. Além do terreno que comprou, ele adquiriu outras duas casas vizinhas e as derrubou para aumentar seu espaço. Além disso, as investigações da 20ªDP indicam que ele tinha pelo menos outros dois carros: um Vectra e um Prisma. Além, claro, do Gol da irmã. O apartamento em que a mãe vive na Tijuca também está sendo investigado.
Em agosto de 2008, agentes da Delegacia Anti-Sequestro (DAS) apreenderam uma carta na casa de um traficante da Vila Cruzeiro em que a cúpula do Comando Vermelho dava ordens para que sequestros de autoridades fossem realizados. A missão ficaria com Fabinho e outro antigo aliado do bandido, Moisés Nunes Pereira, o Moita. No fim do ano, o bandido ainda perdeu importantes aliados no tráfico. Entre eles, Alexander José Carlos, o Choque, preso pela Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) na Paraíba.
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