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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ataques a latinos apresentam um padrão de ódio

Ataques a latinos apresentam um padrão de ódio

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PATCHOGUE – Carlos Orellana, operário de construção do Equador, estava voltando para casa a pé em uma pequena vila de Long Island em 14 de julho, de acordo com ele, quando cerca de doze garotos jovens de bicicleta bateram nele até que ele caísse e o chutaram e espancaram, enquanto gritavam “Volte para o México”.

Orellana, 39, disse que perdeu a consciência e quando acordou, seus sapatos e US$ 20 tinham desaparecido. Ele chamou a polícia e disse que reconheceu alguns dos garotos, que sempre andam pela Main Street. Mas as fotografias de suspeitos mostradas pela polícia não ajudaram. A polícia classificou o caso como roubo de segundo grau, disse ele, e ninguém foi preso.

Ataques como os que Orellana informou têm chamado atenção desde que Marcelo Lucero, outro imigrante equatoriano, foi esfaqueado até a morte em 8 de novembro, próximo a Main Street. Os promotores públicos dizem que sete garotos de 16 e 17 anos, a maioria da vizinhança de Medford, atacavam Lucero quando um deles se precipitou contra ele com uma faca. Os ataques são como um passatempo para o qual os jovens, que alegam não serem culpados, têm um termo casual e depreciativo “caça aos latinos”. Um dos jovens disse às autoridades “Eu não saio para fazer isso com muita frequência, talvez uma vez por semana”.

Isso não é novidade para os Latinos em Patchogue, que dizem os tormentos, agressões e ataques regulares estão fazendo-os viver no medo – onze homens contaram ao “The New York Times” sobre 13 ataques, nove deles nos últimos dois anos.

Mas a polícia do Condado de Suffolk disse que é uma novidade para eles.

“Não tínhamos notado isso”, disse Richard Dormer, responsável da polícia do condado, em uma entrevista no último mês. “E isso é uma preocupação para nós”.

Orellana é um dos muitos residentes latinos que acreditam que Lucero estaria vivo hoje se a polícia tivesse levado mais a sério os crimes e tivesse reconhecido-os como sintomas de um grande problema. Enquanto alguns imigrantes latinos dizem que estão relutantes em denunciar os crimes porque estão no país ilegalmente e temem a discriminação, eles e seus advogados acreditam que a polícia não viu um padrão porque não quer ver nada.

“Eu disse às pessoas, aqui as autoridades estão esperando que um branco mate um hispânico ou um hispânico mate um branco”, disse Orellana. “Eles continuam atacando e roubando e nada muda. Tinha que haver uma morte e essa morte foi a de Lucero”.

Promotores dizem que os jovens acusados no ataque a Lucero perseguiram outro latino e atiraram com uma pistola de ar em um terceiro homem naquele dia. Mas os problemas começaram bem antes da morte de Lucero. E pelas contas dos homens, a série de ataques envolveu muito mais adolescente.

No mês passado, repórteres do “The New York Times” falaram com onze latinos que deram detalhes na descrição dos ataques que eles disseram ter sofrido ou testemunhado. Os ataques descritos mostraram um padrão: grupo de adolescentes – quase sempre, de acordo com os homens, de cidades vizinhas – andando a esmo e atacando latinos sem razão.

Os homens disseram que os grupos eram formados em sua maioria por jovens garotos brancos, mas algumas vezes havia agressores negros ou latinos ou garotas que ficavam observando. As histórias não podem ser investigadas separadamente. Alguns têm os números da queixa feita à polícia ou as contas dos hospitais, mas a maioria não guardou nada.

O “The New York Times” forneceu a polícia do condado alguns detalhes de cada descrição. Dormer disse que a polícia estava conduzindo investigações intensivas de diversos casos que chamaram atenção, mas recusaram comentários sobre casos individuais.

Os imigrantes dizem que têm certa responsabilidade, porque alguns não denunciaram ataques que aconteceram. Muitos temem a polícia por serem ilegais no país; alguns dão nomes falsos; alguns não sabem como o sistema de justiça criminal funciona ou como documentar sobre os processos com a polícia. Grupos de advogados de imigrantes dizem que a polícia frequentemente sustenta um ciclo de desconfiança ao, inadequadamente, perguntar sobre a situação de imigração; a polícia nega esse fato.

Mas a maioria daqueles que falaram com o jornal disseram que eles ou uma testemunha chamou a polícia. Diversos disseram que oficiais anotaram as informações e mostraram-lhes fotos de possíveis suspeitos. Ainda assim cinco homens que denunciaram ataques acreditam que a polícia não levou os casos muito a sério. Um homem disse que um oficial disse a ele que não poderia prender um menor; outro contou que a polícia o desencorajou a preencher o relatório de denúncia; um terceiro disse que viu uma vítima sendo presa depois que seus agressores disseram aos oficiais que ele havia começado a briga.

Em 3 de dezembro, um grupo de advogados Latinos na América e a Igreja da Congregação de Patchogue convidou as vítimas para irem à igreja relatar os casos a advogados e autoridades, incluindo a polícia, o procurador da região, o FBI e o Departamento de Justiça. A maioria dos homens que falaram com o “Times” estavam entre aqueles que contaram suas histórias na igreja. Orellana contou a história, e no outro dia a polícia trouxe mais fotos de suspeitos até sua casa. Dessa vez, ele identificou vários de seus agressores.

De acordo com ele, um dos agressores era Jeffrey Conroy, atleta conhecido do colegial avisado de ter atacado Lucero com a faca.

O advogado de Conroy, William Keahon, disse que Conroy não atacou Orellana, acrescentando que cobertura da mídia deve ter distorcido as memórias de Orellana.

No começo de dezembro, Dormer mandou que o departamento fizesse a auditoria de diversas denúncias arquivadas no ano passado na 5ª jurisdição, o que inclui Patchogue, “para ver se tem algo que nós não percebemos”, disse ele, acrescentando “não somos tão ingênuos a ponto de pensar que nada estava acontecendo”.

Mesmo que o departamento tenha um sistema computadorizado chamado ComStat, que ajuda a traçar padrões, a polícia pode ter deixado passar uma tendência, se oficiais registraram incidentes similares de maneira inconsistente, como “perturbação”, “informação da polícia” ou importunação”, disse Dormer. Oficiais irão receber novos direcionamentos para escrever relatórios, disse.


Por ANNE BARNARD


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09/01 - 17:40

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